sábado, 3 de julho de 2010

Janela

em uma noite inicialmente efêmera percebi logo a insônia que submetia meu corpo, abri as janelas e senti o vento frio percorrer a minha pele já aquecida, fechei-as, porém acabei quebrando uma parte do fecho. acendi um cigarro e liguei a televisão, o vento movimentava a antena, desliguei. um frio danado lá fora e eu aquecido aqui, já no meu segundo maço. envolvido pela nostalgia das minhas lembranças e pelo tédio, estava eu em um quarto de hotel, fugindo dos meus problemas e da exaustão causada pela minha rotina. fugi. fugi de casa, mesmo morando sozinho eu resolvi desaparecer por um tempo. fugir das sombras do dia, dos gritos ensurdecedores da noite e da grave pressão que me rodeia. se te falar que estou pensando em ficar por aqui mesmo, ouvindo as batidas de um coração solitário e confuso, fumando e tomando algumas cervejas, esquecido pelo sentimento. apalpei meu bolso pra me certificar da presença da minha carteira, tirei alguns trocados e desci as escadas daquele pobre estabelecimento. da recepção mesmo, pedi um sanduíche barato e subi esperando a chegada de meu alimento. comi, bebi, fumei. chorei. reparei a presença de uma escura sombra ao meu lado esquerdo. era alguém, eu estava certo disso. a minha esposa, a minha única mulher que se foi a pouco, ela veio me ver, me encontrar nesse lastimável momento. sua face me entristeceu. fui até o banheiro e usando alguns instrumentos da janela quebrada. com um golpe apenas, certeiro, me livrei de tal sofrimento, meus olhos se fecharam em meio a tanto sangue. é, eu acho que me deixei levar por toda aquela solidão infeliz, simples golpe que me fez vê-la de novo, e pra sempre.

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