quarta-feira, 30 de junho de 2010

Noite

Faziam sete meses de namoro. Ele trouxe pra minha vida tanta paz e segurança, que já estava quase me entregando. Uma parte de mim pedia pra ir correndo atrás dele e lhe falar o quanto o desejo, outra parte de meu ser pedia pra eu me afastar e tomar cuidado com a minha auto-preservação. Ao levantar da cama no dia oito de março, o que me veio em mente foram teus olhos e caí em prantos lembrando o quanto esses meses foram certos pra mim. Ao levantar escutei uma leve batida na porta, logo sabia que era o senhor Lucas, o porteiro daqui. Ele tinha um grande buquê de rosas brancas e um envelope perfumado em mãos, com grande dificuldade, colocou aquela nobre mercadoria em uma mesa de centro, eu o agradeci e rapidamente abri o envelope. Eele assim dizia: " Meu amor, hoje temos muito o que comemorar. São sete meses que compartilhamos de carinho, cumplicidade e apoio. Obrigada por ser a mulher mais linda e especial da minha vida. Te amo irrevogavelmente. Ah, te busco ás oito pra jantarmos, espero que tenha gostado das flores, o presente vem a noite. um grande beijo. Victor ". A felicidade me consumiu incondicionalmente. O medo também fez parte, mas não era tão ruim. Dei alguns pulinhos, tomei um banho rápido e escovei os dentes. A espectativa de que o dia seria longo e que eu deveria me arrumar, me trouxe esperanças. Fui ao salão e fiz todas aquelas bobeiras que os homens gostam. Sabe, sempre fui muito elogiada pelos meus cabelos ruivos, mas ele gostava tanto de me ver loira que até fiz questão de pintar o cabelo. Fui até a casa de umas amigas pegar umas dicas de como me vestir, elas indicaram um vestido branco porque combinavam com os meus olhos evidentemente claros. Aceitei as dicas e fui até o shopping. Comprei alguns sapatos e quando já estava indo pra casa, vi uma loja de langeries, uma loja cara fazendo promoção. Entrei e logo fui atendida, me deram para provar langeries azuis e vermelhas, sabe, eu amava vermelho. Comprei uma vermelha com laços, ele amava a minha pele brança vestida com vermelho. Fui para casa correndo, já eram quase sete horas. Coloquei aquela linda peça íntima, meu vestido branco, me maquiei e estava pronta. A campainha tocou, era ele.. o Victor. Me envolveu em seu abraço e me levou até o carro. Estávamos em uma adega bem reservada, tomada bela baixa iluminação sentamos em uma mesa, a única de lá. Rimos, comemos peixe e bebemos vinho, até demais. Tudo isso ao som de uma música que eu nunca esquecerei, uma música em espanhol que acalmava mais o ambiente. Eu estava certa do que queria, ele também. De lá, fomos até um hotel muito lindo, ouvi falar das românticas noites que os casados passavam lá, nunca fui. Em uma suíte abafada pelo calor humano e pelo amor, eu me entreguei. Pela primeira vez, ao homem que eu queria do meu lado eternamente. Cansados estávamos, ele cochilou, eu fiquei observando sua face tão linda e pedindo pr'aquele momento nunca ter fim.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Ela

Eu acho que hoje não acordei pra sorrir. a tristeza só me invade. pedir a Deus pra ela ficar, não vai me adiantar muita coisa, só me fazer chorar mais e mais. Ainda me lembro dos olhos dela, tão lindos quando um raio de sol, iluminavam o meu caminho até tal tragédia. uma doença tem ofuscado o brilho desse raio e tem escurecido a minha vida, a minha estrada tem ficado cada vez mais vazia e obscura. ela que me fazia sorrir com tão pouco, simulando uma criança envolvida por uma grande blusa de frio, ela me ensinava como era ser mãe, tão grande mãe ela havia sido. me acolheu tantas vezes em sua casa e eu nem precisava pedir, seu bolo de cenoura sempre recheado me esperava ao lado do forno, antes pedia a bênção, depois me lambusava daquele precioso bolo e quando estava cheia, dizia tchau e ia brincar de bola na rua, uma moleca. ela era não só a minha luz, mas as minhas forças. com ela viagei várias vezes, não só com o meu corpo mas também nos sonhos. as histórias me deixavam fascinada, e as risadas eram intermináveis. ela era única. o meu choro é de medo, e o meu caminho? cada vez mais escuro.. meu coração sofre. eu peço pra ir também, mas é em vão. quando ela tossiu aquela parte de seu já escasso sangue, foi o alerta pra minha gratidão.. a maior prova que amar alguém não faz ela existir fisicamente, o amor ultrapassa o corpo, enche a alma. e eu ainda penso que se ela tivesse me amado mais, esse amor já teria destruído aquele corpo frágil, e a minha existência também.

terça-feira, 22 de junho de 2010

realidade

a vida passa e o dia inteiro eu fico a me imaginar. daqui uns anos, daqui algumas horas, será que o mundo vai mesmo acabar? será que eu vou sofrer? quando essas perguntas me consomem, eu prefiro lembrar do meu presente. o atual também não é dos melhores, mas o meu presente sou eu que faço.. isso é o que me conforta. saber que um erro pode se transformar em aprendizado, que tudo de ruim é fase e logo passa, logo estarei de pé mais uma vez e cada vez mais forte. a única coisa que levo sempre é que nada é mútuo, apenas sentimento. tentar ser forte demais, indestrutível, só te destrói, te compromete e te corrompe, consigo mesmo. se amar é fundamental, se amar demais é narcisismo. aprenda a amar não só a si mesmo, mas o próximo, aprenda a construir algo mútuo onde você exclusivamente não é o protagonista. essa é a razão da vida.. viver cada momento intensamente e marcar o caminho de cada um, antes que o amanhã chegue e seja cruel, levando assim o seu presente e terminando a tua história sem nenhuma plateia, ou melhor, sem nenhum elenco.

Estrada

Essa tarde estava voltando do colégio, quase anoitecendo e fiquei ouvindo as buzinas,olhando os mendigos ,aquelas sombras atrás das esquinas e a fumaça dos restaurantes. As luzes incendiavam a escuridão dos becos e ocultavam meu medo. Em cada esquina uma criança de olhos brilhantes me esperava, implorando por um doce.. logo a frente, eu observava casais com filhos usurpadores de seu próprio veneno, implorando por mais um video-game digital. O fim? Vivo me perguntando até quando seremos escravos do dinheiro, enquanto alguns são escravos da miséria.